top of page

Artigos - FMAgents

  • Foto do escritorFMAgents

Periodização Tática no Futebol - Qual o seu significado metodológico?

Atualizado: 27 de fev. de 2019


Periodização Tática no Futebol - Qual o seu significado metodológico?
Periodização Tática no Futebol - Qual o seu significado metodológico?

A metodologia criada e enaltecida por Vítor Frade, vislumbra o jogo como o centro de acontecimentos para a concepção e planeamento do treino, sempre englobada numa visão holística sobre o Futebol - a designada 'Periodização Tática'.


A criação de situações contextuais de jogo promove uma assimilação das dinâmicas necessários ao jogo, o que se reflete num desenvolvimento da tomada de decisão dos atletas e consequente estimulação global do plano de ação neuro-motor destes.


Numa perspectiva simplicista, o atleta pratica o futebol treinando, aprende com a estimulação que lhe é proposta, evoluindo consistentemente... Esta é a ideia conceptual da periodização táctica aplicada ao futebol.



Periodização Tática VS Periodização Convencional


Quando nos remetemos a observar os parâmetros que regem a periodização convencional, observa-se que as qualidades físicas são o elemento orientador de todo o processo - claramente analítico. Nesta perspectiva, o mais importante é que a equipa se encontre "estável e em boa forma física", sendo todo o planeamento direccionado para este objetivo.


E que meios utilizam para atingir esse fim?


Essencialmente através da gestão da dinâmica de cargas (Modelo de Matveiev). Com um planeamento inicial (pré-época) com grande volume e baixa intensidade, e duas a três semanas antes do início competitivo, aumentado a intensidade e diminuindo respetivamente o volume de treino.


Portanto neste tipo de periodização, o período preparatório evidencia-se fundamentalmente como uma base sólida para a temporada.


Existe efectivamente uma busca incessante pelos "picos de forma" (patamares de desempenho alteráveis consoante a época desportiva). Por outro lado, qualquer paragem competitiva é utilizada para fomentar o restabelecimento das qualidades físicas, ou como Carlos Carvalhal apelida "carregar baterias".


“Eu não quero que a minha equipe tenha picos de forma, não posso querer que a minha equipe oscile de desempenho! Quero sim que esta se mantenha sempre em patamares de desempenho elevados. Porque não há jogos ou períodos mais importantes do que outros. Todos os jogos são para ganhar. No Benfica, no Leiria, no Porto ou no Chelsea” (José Mourinho).

Por sua vez, a Periodização Tática apresenta uma visão metodológica bastante diferente da periodização convencional como demonstram as palavras de José Mourinho.


Ainda referindo-nos à preparação convencional, a recuperação física é outra das componentes que é planeada de forma analítica, ou seja "se a equipa treinou 1.5h tem obrigatoriamente de descansar". Na mesma linha ideológica, pretende-se recuperar bem para depois poder "treinar muito".


Numa nota conclusiva, a Periodização Convencional pretende demonstrar que não existe, ou melhor, que não é possível manter o rendimento desportivo estabilizado durante a época desportiva, originando a procura dos picos de forma com base nos efeitos retardados das cargas.


De forma antagónica, a Periodização Tática subjuga algumas das ideologias da Periodização Convencional, interpretando e inovando conceitos que se ajustem à complexidade que caracteriza a modalidade que é o Futebol.


A frase de Carlos Carvalhal interpreta bem as ambiguidades entre estes dois tipos de periodização:


"A organização e a ordem de um sistema ou de um todo, transcende aquilo que é "oferecido" pelas partes isoladamente." (Carlos Carvalhal)


Periodização Tática - O que é?


Segundo José Guilherme Oliveira, "é uma concepção de Treino que pretende, através do respeito por uma Matriz Conceptual e diferentes Princípios Metodológicos próprios, construir um Jogar Específico. Esta construção assume-se como um processo dinâmico não linear (e sem fim...)"


Para Carlos Carvalhal, a Periodização Tática assume "a componente tática como núcleo central de preparação, estando subjugada a esta, todas as outras componentes".


Destes dois autores referidos anteriormente podemos claramente explorar a periodização tática na sua organização concepto-metodológica:

  1. É uma concepção de treino como processo de aprendizagem;

  2. Suporta os conhecimentos num vasto leque de áreas científicas;

  3. É regulada pela componente tática como orientadora de todo o processo.



1. Periodização Tática - Uma concepção de treino como processo de aprendizagem


Qualquer tipo de ensino pressupõe a contextualização e orientação dos conhecimentos, saberes, experiências e competências, ou seja ajudar a encontrar o caminho para o esclarecimento.


Por outras palavras "indicar o trajecto a seguir, ou que se pretende seguir".


Todavia, e não menos importante é esclarecer que só se consegue ensinar se o(s) outro(s) quiser(em) aprender. Isto é, a predisposição para o conhecimento tem de existir para haver retenção de informação (seja ela teórica ou motora).


A Periodização Tática é um processo que tem como objetivo a equipa e os jogadores adquirirem conhecimentos e competências, colectivas e individuais, através de experiências, de forma a ir construindo uma forma de jogar própria (José Guilherme Oliveira).


2. A Periodização Tática - Suporte de conhecimento num vasto leque de áreas científicas


A verdade é que o conceito desenvolvido pelo Professor Vítor Frade alicerça os seus conhecimentos e paradigmas em áreas da ciência até aqui não muito convencionais na área do Treino.


O primeiro exemplo é a Teoria da Complexidade, ideologia que foi proposta pelo filósofo francês Edgar Morin. Segundo este pensador, a resposta às novas necessidades filosóficas é a complexidade porque ao reduzir o todo às partes, é possível explicar o todo. O mesmo que aplicar a lógica mecânica às dificuldades do ser vivo e da vida social (onde se insere o Treino).


Teoria da Complexidade aplicada ao Futebol
Dimensões Complexas aplicadas ao Treino

Na Periodização Tática, o próprio conceito da dimensão TÁTICA difere dos padrões normais afirmando-se como uma dimensão (mais) complexa que se manifesta pela interação de uma organização (Macro...Micro) "intencionalizada" das outras dimensões (que também são complexas) (José Guilherme Oliveira).


Portanto, o conceito de complexidade é fundamental para a compreensão deste tipo de Periodização, surgindo como um conjunto de interacções que um sistema pode promover entre os seus diferentes elementos, entre estes e o contexto envolvente.


Quando aplicada ao Futebol, a complexidade surge do conjunto de interações que emergem do jogo e do contexto, como por exemplo a qualidade dos jogadores, a interação entre jogadores e ideias, etc...


Neste ponto da complexidade nada melhor que ler as palavras de José Mourinho sobre o assunto, ele que é um sábio orientador dos seus pensamentos e, geralmente, nos presenteia com ideias e exemplos práticos dos seus fundamentos.


"Qual é o homem mais rápido do mundo? Vamos supor que é o Francis Obikwuelu, que faz menos de 10 segundos em 100 metros. É muito rápido e não conheço nenhum jogador de futebol que o consiga igualar numa corrida de 100 metros. No entanto, numa partida de futebol, 11 contra 11, penso eu, o Obikwuelu seria o mais lento!" (José Mourinho)
"Um caso paradigmático de um jogador actual lento é Deco. Se o colocássemos numa corrida de 100 metros com os homens do atletismo ele faria uma figura ridícula. É descoordenado a correr, não tem velocidade terminal, muscularmente de certeza que está carregado de fibras de contracção lenta e nada de fibras de contracção rápida. No entanto, num campo de futebol, é um jogador dos mais rápidos que conheço porque velocidade pura não tem nada a ver com a velocidade no futebol. A velocidade no futebol tem a ver com análise da situação, de reacção ao estímulo e capacidade de o identificar." (José Mourinho)

Outras teorias podem ser enunciadas como forma de inclusão no modelo da Periodização Tática como a Teoria do Caos, a Geometria Fractal, as Neurociências, a Teoria dos Sistemas Dinâmicos, a Modulação Sistémica, entre outras...


O que propõe a Periodização Tática é perspectivar a complexidade como aproximação acertada na forma de encarar, planear e projectar o trabalho: o todo no centro das partes, que interessam enquanto viradas para o todo e ao serviço do TODO.



3. Periodização Tática - Componente tática como orientadora de todo o processo.


Aparentemente, este título demonstra uma subjugação de todas componentes de Treino face ao aspeto tático. Contudo a regulação e orientação da dimensão tática como elemento centralizador do processo não retira importância a nenhum dos outros.


A questão de facto é que a maneira como se pretende uma equipa a jogar (estilo de jogo ou forma de jogar) impõe uma coordenatividade muito própria (principio da especificidade), estando em perfeita subjugação pela dimensão tática as restantes dimensões: técnica, física e psicológica-emotiva.


Este reconhecimento do jogo enquanto realidade complexa permite a identificação da essência organizacional, estrutural e funcional do jogo. Além de que evidencia o reconhecimento do processo de treino como realidade complexa e com dinâmica não linear.


Este tipo de pressupostos é fundamental para conhecer o SER que joga - o homem (criança, adolescente ou adulto) e respetivamente as suas evoluções fisiológicas, de aprendizagem, entre outras vertentes mas sempre em toda a sua complexidade.


A ênfase é dada na aglomeração, ou se quiser na assimilação de uma determinada forma de jogar, exponenciando princípios do modelo de jogo próprio nos quatro momentos/fases do jogo.


Esta compilação de intencionalidades colectivas e individuais permite fazer emergir uma especificidade no jogar de uma equipa.


Pretende-se criar uma lógica semanal de experiências com o objetivo de existir aquisição e desenvolvimento de conhecimentos ESPECÍFICOS ao jogo (individuais e colectivos), de habilidades técnicas ESPECÍFICAS e, simultâneamente, uma relação própria entre o esforço e a recuperação, que potencie a criação de padrões de ação, ou seja, de intencionalidades colectivas e individuais, de forma a criar um jogar específico. (José Guilherme Oliveira)

As palavras de José Guilherme Oliveira clarificam bem o propósito da Periodização Tática.



Periodização Tática - O porquê desta nomenclatura?


Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa:

  • Periodizar = dividir em intervalos regulares de tempo; recorrente, regular; tornar periódico.

Sendo o espaço temporal no futebol definido pela duração da época desportiva, a periodização envolve a necessidade de divisão deste tempo em termos estruturais, operacionais e funcionais para criação de um jogar.


É desta forma que surge o conceito de Padrão Semanal - o Morfociclo (período temporal entre 2 jogos).


Sendo o espaço temporal no futebol definido pela duração da época desportiva, a periodização envolve a necessidade de divisão deste tempo em termos estruturais, operacionais e funcionais para criação de um jogar. É desta forma que surge o conceito de Padrão Semanal - o Morfociclo.
Padrões Semanais - Morfociclos

Depois de uma breve reflexão sobre a Periodização, o segundo termo TÁTICA surge por esta ser a dimensão centralizadora do processo, por outras palavras, a modeladora e coordenadora de todo o Processo de Treino. Esta dimensão não é abstracta manifestando-se sempre de forma singular e ESPECÍFICA, assumindo-se como a CULTURA DA EQUIPA.


Periodização Tática - Período Preparatório


Ao contrário da Periodização Convencional, este período não é crucial para a adaptação física dos atletas mas sim para colocar a equipa a trabalhar para uma especificidade característica de jogo, consoante as ideias do treinador.


Mais importante que a preparação física e psicológica os jogadores para a competição, é o treinador ter uma linha condutora da sua forma de jogar e começar precocemente a sua implementação, consequentemente as adaptações fisiológicas desenvolvem-se como necessidades diárias em treino.


O que se faz lá, seja o que for, nunca vai ser responsável por aquilo que se vai passar três, quatro, cinco meses depois." (Vítor Frade)


Periodização Tática - Quais os Objetivos?


Como vimos anteriormente, todo o processo operacional de treino é direccionado para a construção de um Modelo de Jogo Específico na Periodização Tática.


Para o aparecimento desse estilo de jogo específico é essencial:

  1. A criação de uma "identidade colectiva" dinâmica - intencionalidades colectivas;

  2. A incessante busca por "intencionalidades individuais" que se relacionam com a "identidade colectiva", sem perda (e com ganhos) de individualidade;

  3. A Conciliação entre as "intenções prévias" e as "intenção em ato".

Define-se modelo de jogo como uma conjectura / ideia de jogo constituída por princípios, sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios, representativos dos diferentes momentos / fases do jogo, que se articulam entre si, manifestando uma organização funcional própria, ou seja, uma identidade (Oliveira, 2003).

É impossível pensar na Periodização Tática sem falar em modelo de jogo, porque é através deste que se fomenta a criação de uma identidade...


Este processo não linear e dinâmico dá-se entre uma estruturação MACRO (equipa) e MICRO (jogadores). Contudo pretende-se que no plano macro exista uma previsibilidade parcial, e no plano micro uma imprevisibilidade dentro da previsibilidade, isto porque dentro da "plano de ação" e da ideia do treinador sobre a forma de jogar da equipa, os jogadores que criam, desestabilizam essa ordem pela sua individualidade e tomada de ação focada no desequilibro do adversário são estimulados a que o façam, trazendo resultados positivos a nível individual e colectivo - fenómeno caótico determinístico.


Segundo Jesualdo Ferreira (2006) na prática do futebol é preciso pensar e tomar decisões de forma constante, por outras palavras, ter jogadores inteligentes que consigam pensar nas diferentes fases do jogo em busca de uma identidade colectiva.


Princípio da Especificidade na Periodização Tática
Princípio da Especificidade na Periodização Tática (José Guilherme Oliveira)

Porque será que cada equipa apresenta formas de manifestação diferentes dentro de campo?


Essencialmente porque os padrões comportamentais colectivos e individuais são padrões de conhecimento que resultam de INVARIANTES ESPECÍFICAS que são construídas através das ideias do Treinador, do conhecimento dos jogadores, da interação entre estes, e respetivamente operacionalizadas através do processo de treino.


Trata-se dos jogadores aprenderem a falar a “mesma língua” para se jogar bem (Santana; Ribeiro; França, 2014).


Especificidade é definida como um conceito qualificador de uma relação entre variáveis, as quais representam a informação especifica de um determinado contexto (Gibson, 1979).

Como se relaciona o principio da especificidade com o processo de treino e modelo de jogo?


É a fase visível do processo e pode ser definida como sendo a concretização de uma intencionalidade coletiva num determinado contexto, resultando de tal processo uma identidade de jogo, um “jogar”, singular. É necessário ter a consciência de que se trata de uma noção probabilística identificadora quando se manifesta regularmente, como padrão, sendo por isso simultaneamente uma utopia, pois não existe como reprodução fiel da nossa concepção ideal e nem em permanência, mas em tendência, é uma emergência, por se tratar de uma realidade que resulta da conexão das partes acima referidas e cuja articulação quando feita de maneira organizada torna-se superior à soma das partes (Maciel, 2011).

Este conceito tem sido bastante desenvolvido na área do Treino com alguns autores a debruçarem-se na sua importância para a Periodização Tática.


Segundo os conceitos fisiológicos atuais, as mudanças mais significativas a nível morfo-funcional ocorrem em estruturas intra-celulares e órgãos que sejam suficientemente estimuladas por cargas funcionais, surgindo assim respectivas adaptações.


Partindo deste principio teórico é possível entender o esforço específico do Futebol, ou seja, a caracterização do esforço energético funcional que o Futebol requer (em média).


A especificidade torna-se determinante na metodologia de treino, Treino Integrado, em que existe a criação de exercícios mais situacionais possível, ou seja, tira-se do jogo aquilo que é mais importante e transporta-se para o treino, sendo este constituído por acções do próprio jogo (José Guilherme Oliveira).

Logo, qualquer exercício só é ESPECÍFICO se estiver em relação direta com o Modelo de Jogo construído pelo Treinador!



Matriz Conceptual da Periodização Tática - Modelação do Processo de Treino


A concepção de jogo por parte do Treinador é primordial para a fazer emergir em prática através do processo de treino, só assim poderá dar corpo aos princípios metodológicos que o regem.


O conhecimento amplo desta configuração é importantíssimo para que os estímulos de treino sejam congruentes com essa mesma ideia de jogo, e assim alcançar a especificidade pretendida.


Face a esta demanda, a matriz conceptual promove uma orientação ao processo de treino, categorizando os momentos de jogo, as escalas de organização da equipa e os princípios de jogo.


Matriz Conceptual da Periodização Tática (José Guilherme Oliveira)
Matriz Conceptual da Periodização Tática (José Guilherme Oliveira)

Os autores Borges & Teixeira (2012) e Kormelink & Seeverens (1997) evidenciam a existência de 4 momentos de jogo distintos: organização ofensiva, transição ataque-defesa, organização defensiva e transição defesa-ataque. Como Valdano (2001) dizia e com aparente razão "as equipas têm de saber atacar e defender, embora algumas também saibam transitar".


Perante as diferentes fases do jogo, os comportamentos executados podem acontecer a diferentes escalas da equipa:

  • Coletivas: envolvimento de toda a equipa;

  • Inter-setoriais: envolvimento de jogadores de setores distintos (ex: central com médio);

  • Setoriais: envolvimento de jogadores do mesmo setor (defesa lateral e central);

  • Grupais: Mais de um jogador de cada setor com outro setor;

  • Individuais: ação individualizada de um jogador da equipa.

A compreensão desta funcionalidade estrutural permite, durante o morfociclo padrão, e dependente do dia semanal e das dinâmicas desejadas, trabalhar em diferentes escalas facilitando a aquisição de princípios, não repetindo as mesmas estruturas em diferentes dias.


Todos os comportamentos executados dentro das diferentes escalas de expressão e durante os diferentes momentos de jogo assumem-se como padrões de ação táticos com intencionalidade e regularidade, aos quais denominamos como princípios de jogo.


Se pensarmos numa perspetiva macro dos princípios, neste caso relativos à equipa e que lhe dão identidade coletiva estamos perante os grandes princípios de jogo. Num plano meso encontram-se os sub-princípios de jogo, padrões de jogo intermédios da identidade da equipa. Quando pensamos em pormenores individuais, num plano micro, que surgem em função das dinâmicas coletivas e dos princípios e sub-princípios, apelidamos estes planos de ação individuais como sub-princípios dos sub-princípios de jogo.


A concepção de jogo do Treinador deverá ter, esclarecidamente, todos estes planos de ação bem delineados, desde um plano macro ao micro. Para a sua operacionalização e exacerbação deverá sempre conceber exercícios específicos que foquem estes princípios como meio para alcançar o seu modelo de jogo.


A organização e distribuição destes princípios, sub-princípios e sub princípios dos sub princípios de jogo deverá ser sabiamente distribuída segundo os morfociclos.



Matriz Metodológica da Periodização Tática


Segundo Carlos Carvalhal além da operacionalização do Modelo de Jogo em especificidade, deve-se obedecer à lógica dos seus princípios metodológicos (os quais se encontram em permanente interação):

  1. Princípio de Progressão Complexa;

  2. Princípio da Alternância Horizontal em especificidade;

  3. Princípio das Propensões.



#1. Princípio de Progressão Complexa


Tal como o nome indica, este princípio relaciona a distribuição durante os morfociclos dos Grandes Princípios, dos sub-princípios (...) consoante as problemáticas e evolução da equipa. Consiste numa periodização e planificação a curto, médio e longo prazo da "dimensão tática".


Pretende-se que exista uma planificação e periodização a curto médio prazo, jogo a jogo, e uma respetiva planificação a médio-longo prazo, que interagem entre si num conjunto de princípios estruturados e organizados numa metodologia comum.


Planificação Curto, Médio e Longo Prazo da Periodização Tática
Planificação Curto, Médio e Longo Prazo da Periodização Tática

Não menos importante é ter atenção ao desgaste (fisiológico e emocional) que advém da complexidade envolvida pelos princípios incutidos durante o morfociclo, assim como pelo tipo de esforço estimulado.



#2. Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade


A profunda compreensão deste princípio necessita de um esclarecimento acerca de alguns termos específicos à base fisiológico e metodológica da Periodização Tática.


Começando...


Tal como anteriormente definido, o morfociclo consiste no período entre 2 jogos, não interessando o intervalo de tempo entre estes.


Definição de Morfociclo - José Guilherme Oliveira
Definição de Morfociclo - José Guilherme Oliveira

Por alternância horizontal compreende-se uma lógica processual de não sobrecarga dos conteúdos metodológicos (grande princípios, sub-princípios, etc...) e de sobrecarga fisiológica através de uma planificação específica durante os diferentes dias do morfociclo.


Assim, entende-se que a lógica do princípio da alternância horizontal em especificidade não procura apenas a manutenção de uma condição favorável fisiológica dos atletas, mas também do seu aspeto cognitivo-emocional. Só desta forma o atleta estará 100% preparado para a atividade competitiva.


Entramos num binómio de ensino e recuperação, na perspetiva que o atleta para aprender (em treino) precisa de estar "fresco". Mais, as implicações do treino hoje terão consequências amanhã, pelo que a carga induzida e o tempo de recuperação são chave neste processo.



#2.1. Contrações Musculares


Tamarit (2010) e Oliveira (2012) descrevem a existência de 3 tipos de contração muscular segundo as suas dominâncias:

  • Tensão;

  • Duração;

  • Velocidade.

No jogo de futebol elas interagem entre si criando uma dinâmica específica.


Contudo para não existir uma sobrecarga fisiológica, emocional e funcional, estas devem surgir em alternância durante as unidades de treino. Sempre com o intuito de as aquisições não serem confrontadas com o elemento da fadiga para os atletas.


A criação de sub-dinâmicas de esforço surge através da criação de exercícios para incidir em determinada variante e com um tipo dominante de contração.


O princípio metodológico da Alternância Horizontal em especificidade tem como objetivo induzir adaptações nas diferentes escalas e respectivas interações, através de uma lógica processual (Borges et al., 2014).
Esse princípio ocorre durante a semana, portanto horizontalmente ao longo de uma semana de treinos (Morfociclo) e é ele quem permite regular os esforços em termos de exercitação e recuperação (Maciel, 2011 & Tamarit, 2010).


#3. Princípio das Propensões


A procura incessante por fazer emergir os princípios de jogo requeridos pelo modelo de jogo durante o modelo de treino, através da criação de exercícios que estimulem o seu aparecimento num padrão mais regular é denominado como princípio das propensões.


O Treinador procura criar contextos de jogo que façam emergir comportamentos, de forma constante, que modelem a sua "forma de jogar".


Enquanto que num plano tático procura observar a quantidade de vezes que determinado comportamento surge durante um exercício, num plano fisiológico avalia a sub-dinâmica requisitada em determinado dia.


É este principio, na visão da Periodização Tática, que possibilita a tradução do jogo de futebol num fenómeno caótico para caótico-determinístico.


O Princípio das Propensões permite modelar os contextos de exercitação de acordo com as ideias que se tem para a equipe, ou seja, os comportamentos e atitudes que se deseja evidenciar devem ser repetidos em um grande número de vezes (Tamarit, 2010).


Vítor Frade - O Pai da Periodização Tática


Vítor Manuel da Costa Frade, ou melhor, o Professor Doutor Vítor Frade é um fígura sui generis da nossa sociedade. Não pelo que apenas deu ao Mundo do Futebol mas pelo que dá às pessoas diariamente.


Há quem diga que o escritório dele, na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto onde lecciona há cerca de 35 anos, nem sequer tem porta. Os curiosos vêem de todo o Mundo e a toda hora... Contudo existe sempre tempo para todos, porque ao fim e ao cabo, quem faz o que gosta, nunca cansa!


De poeta a jogador profissional de futebol, de estudante de Medicina a Engenharia (frequentou 4 cursos superiores: Educação Física, Filosofia, Engenharia e Medicina) a filósofo, a sentença de "Homem de 7 Ofícios" parece curta para tal sujeito.

Nasceu em Vila Franca de Xira, vivia-se o ano de 1944 (24 de Setembro).


Como jogador, o seu historial inicia nos juniores do Futebol Clube do Porto sendo orientado por José Maria Pedroto.


Depois de pisar os relvados profissionalmente até aos 33 anos, continuou a verter suor mas desta vez fora das 4 linhas através de pensamentos que viraram metodologias de treino, que por sua vez catapultaram treinadores portugueses para o TOP mundial do futebol. Nomes como José Mourinho, André Villas-Boas, Vítor Pereira, Carlos Carvalhal, entre muitos outros são apenas alguns desses exemplos.


Como treinador-adjunto conta no seu currículo com passagens pelo Rio Ave FC (6 épocas), no Boavista FC (6 temporadas), FC Felgueiras (1 temporada) e no FC Porto onde permanece nos quadros técnicos há mais de 20 anos. No seu palmarés encontram-se três campeonatos nacionais, quatro taças de Portugal e 4 supertaças, chegando também aos quartos-finais da Taça UEFA e da Liga dos Campeões.


E hoje em dia continua a presentear o mundo do futebol com as suas virtudes de pensamento, com autênticas bíblias de recortes, ideias, transcrições e opiniões em mantos sagrados de informação futebolística (mero exemplo em infra).

Exemplo de anotações de Vítor Frade
"Devias ler esta parte tantas vezes quantas as necessárias para passar isto a fazer parte da tua respiração" (Frade, 2016)


Leitura Recomendada - Periodização Tática em Livro


  • Documentos sobre Periodização Tática - LER AQUI!

  • José Mourinho - Modelo de Treino (FC Porto - 2002) - LER AQUI!

  • Simão Freitas - A biologia de uma CRENÇA inabalável na Periodização Táctica - LER AQUI!

  • Sérgio Ferreira - Periodização Táctica no Futebol de Formação - LER AQUI!

  • Miguel Lopes - Treinando com o Jogo - LER AQUI!

  • Nuno Resende - Periodização Táctica. Caminho(s) de Aprendizagem, para Todos e Cada um de Nós - LER AQUI!

  • Carlos Campos - A Periodização Táctica nas Escolas de Futebol de Elite - LER AQUI!

  • Jorge Maciel - Morfociclo Padrão: O AlgoRitmo que garante Evitando os Ciclos sem Morfo. Os porquês? - LER AQUI!

  • José Ferreirinha Tavares - Periodização Táctica - LER AQUI!

  • Nuno Amieiro | Morfociclo Padrão: O AlgoRitmo que garante Evitando os Ciclos sem Morfo: Concretização - LER AQUI!



Referências Bibliográficas

  • Ferreira, J. (2006). Entrevista a Jesualdo Ferreira in revista Record Dez; Sábado 13 maio. Nº 106.

  • Guilherme Oliveira, J. (2003). “Organização do jogo de uma equipa de Futebol. Aspectos metodológicos na abordagem da sua organização estrutural e funcional.” Documento de apoio das II Jornadas técnicas de futebol da U.T.A.D.

  • Maciel, J. (2011). Entrevista en: L. Esteves, Metodologia, treino e idéias sobre o futebol. Recuperado el 16 de dezembro de 2014 de: http://organizacaodejogo.blogspot.com.br/2011/09/conversas-de-futebol-jorge-maciel.html

  • Oliveira JGG. Apontamentos das aulas de Opção em Futebol – Planificação e Periodização do Treino. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Não publicado. Portugal, 2012.

  • Santana, W. C., Ribeiro, D. A., y França, V. S. (2014). 70 contextos de exercitação tática para o treinamento do futsal. Londrina: Companhia Esportiva.

  • Tamarit X. ¿Que es la periodización táctica? Vivenciar el juego para condicionar el juego. Pontevedra: MC Sports, 2010. Arruda M, Bolaños MAC. Treinamento para jovens futebolistas. São Paulo: Phorte Editora, 2010

1.357 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page